Seria a chance de um Microsoft Linux?

Anderson Pereira Ataides

Recentemente recebi de uma das newsletters que assino, a seguinte notícia : "MS perde US$122mi na venda de 25% da Corel ". Assim que recebi a notícia, não dei muita importância, afinal, o que são míseros US$122 mi para a gigante do software? Como um simpatizante do Linux e da causa Software Livre, comecei a pensar: qual o real motivo da Microsoft em adquirir a Corel? Depois de tanto matutar, acabei chegando a algumas conclusões, que agora compartilho com vocês.

O domínio Microsoft vem sofrendo algumas perdas após o advento Linux e do movimento Software Livre. A maioria absoluta dos provedores na Internet usam o sistema do pingüim e carregam com ele outros softwares livres, como o servidor web Apache, o servidor de e-mail Sendmail, banco de dados MySQL e linguagem php. Tudo bem, mas nas corporações, a gigante ainda mantém o domínio, vendendo os seus equivalentes (respectivamente: Windows, IIS, Exchange e SQL Server).

Enquanto o software livre for mantido por uma porção de hackers espalhados pelo mundo, os empresários ainda vão estar com um pé atrás antes de adotar este tipo de software, e este seria um argumento contra o software livre. A partir do momento que grandes corporações investem nesta filosofia, aí a coisa pega, mas ainda assim, o domínio Microsoft persiste pois Sun, IBM investem em infra estrutura, no servidor e o usuário final ainda fica em segundo plano. Um belo dia porém a Corel Corporation inventa de lançar seus aplicativos para Linux. Lança o Corel Draw, de longe o aplicativo mais usado por designers e principalmente: disponibiliza o Corel Photo Paint gratuitamente. Para a comunidade Linux, não faz muita diferença, pois estamos acostumados ao Gimp que é um concorrente a altura, mas para a grande maioria dos usuários, agora sim existe um bom aplicativo gráfico para Linux.

Posteriormente, a Corel lança também a suíte Word Perfect Office para o Linux, e mais tarde surge no mercado uma distribuição: Corel Linux. E daí, é apenas mais uma distribuição certo? Errado. Vamos pensar um pouquinho: a grande propaganda do Linux é a estabilidade e segurança maior que o Windows, e agora tem a melhor suíte para desenho e um pacote office tão competente e rico em recursos como o MS-Office. Resumindo, temos uma distribuição teoricamente perfeita para o usuário final. Agora a turma das janelas agora precisa se preocupar, pois temos uma empresa que dá suporte completo Linux ao usuário final. Qual a solução encontrada por Bill Gates? Vamos comprar ações da Corel e trazer tudo de volta para as janelas. Esqueçam o pingüim. E foi justamente o que aconteceu. O Corel Linux sucumbiu, o Corel Draw só existe para o Windows e a suíte Word Perfect virou apenas mais uma suíte office correndo atrás do MS-Office.

Como simpatizante do Linux vou agora atirar contra o patrimônio pois vou advogar para o lado do mais forte. Particularmente acho que a Microsoft perdeu uma grande chance de impor seu domínio também no sistema do pingüim. Todos os aplicativos Corel trabalhavam sob o WINE1, um projeto livre ambicioso que tenta implementar as API's2 do Windows no Linux. Como o WINE ainda não estava maduro o suficiente, a Corel o "aperfeiçoou" e implementou o que precisava para seus aplicativos funcionarem. Deu certo e é justamente aí onde acho que a Microsoft fez a besteira. Ao invés de abafar o projeto, ela deveria tê-lo incentivado, investido no projeto WINE. Assim ela poderia até fazer uma propaganda dizendo-se incentivadora do software livre, pois contribuiu com um projeto. Depois ela poderia manter o monopólio: implementar o que precisa para o MS-Office funcionar no Linux.

Espera aí, do mesmo modo que softwares proprietários tem as leis de copyright para protegê-los, existe uma GPL que garante que qualquer software livre deve permanecer livre, mesmo que eu implemente minhas alterações. Ralmente esta informação é verdadeira, mas note que não é necessário "fechar" o WINE para o Office funcionar, ou seja, em momento algum estou ferindo a GPL se eu fizer um aplicativo que funciona sob a tutela de um software livre. Foi isto que a Corel fez com o Corel Draw e a suíte Word Perfect Office. Nenhum destes aplicativos eram livres e em momento algum feriam a GPL pois o WINE modificado continuava livre.

Em minha ignorância, acredito que ao investir na migração de seus produtos para a plataforma Linux, a Corel estava fazendo um bom investimento que com certeza teria um grande retorno, haja visto que o mercado seria ampliado. Com a participação da Microsoft, este investimento acabou e com isto o retorno que ele traria também foi embora. Será que ao invés de abafar a gigante do software tivesse incentivado o "prejuízo" não teria sido menor? Mais ainda será que ela não teria tido lucro? Bom, o pessoal de Redmond deve saber o que faz. Somente o tempo vai dizer se a atitude foi correta ou não.

Os evangelizadores do software livre agradecem a "furada" da Microsoft. O usuário final...


1WINE – Acrônimo recursivo para Wine Is Not Emulator (Wine não é um emulador). É um conjunto de programas e bibliotecas que possibilita o funcionamento de aplicativos feitos para o Windows no Linux.

2API (Application Program Interface) – é um conjunto de instruções que os programadores usam para um aplicativo fazer uso das funcionalidades de um sistema, no caso o Windows.